Qual foi a primeira loja de aplicativos que existiu?

Os aplicativos aparecem com os computadores, afinal, eles são projetados para resolver problemas que os humanos precisam de anos para resolver, portanto, os aplicativos foram e continuarão a existir.

Mas, antes das lojas virtuais e downloads via Wi-Fi, como eram distribuídos os aplicativos? Qual foi a primeira loja com tal objetivo da história?

Primeiro, é necessário considerar que nunca se chegará a uma resposta definitiva, porque há algumas variáveis que fazem com que seja impossível delimitar com 100% de certeza qual foi a precursora de tudo. A tecnologia da época também não permitia registrar tudo com precisão, o que inviabiliza pesquisas mais antigas.

Nos primórdios da informática, os aplicativos eram comercializados em lojas físicas junto com os periféricos e acessórios para as máquinas. Era a época das caixas gigantes recheadas com manuais e dezenas de disquetes para ajudar as pessoas a instalar o programa nos complexos sistemas operacionais.

A internet ainda engatinhava e as velocidades de transferência de dados eram tão baixas que se tornava impossível pensar na distribuição virtual de conteúdos. Não existia HD e a maioria dos programas rodava direto do disquete, por isso era necessário ter essas mídias para fazer seu Windows ou o MS-DOS funcionar.

Com a evolução das comunicações, a internet começou a ter melhorias significativas, o que permitia a interação com sites e a realização de compras “virtuais”. Foi aí que se iniciou os primeiros e-commerces e, consequentemente, a exploração do ambiente digital para venda de software.

Primeira loja digital do mundo

O Electronic AppWrapper (EAW) é o primeiro catálogo de distribuição de software eletrônico comercial que se tem notícia. Lançado em 1988, ele oferecia softwares utilitários, hardware, fontes, cliparts, livros técnicos, livros recreativos, reprodutores de mídia e muito mais. A assinatura custava US$ 60 por ano para quem morasse fora da América do Norte.

Originalmente, ele era impresso, mas acabou sendo transposto para o formato digital para oferecer distribuição eletrônica e licenciamento de software para desenvolvedores terceirizados nos sistemas NeXT — depois, acabou chegando ao HP-PA RISC, Intel e SUN Sparc graças à evolução da internet. Um rápido parêntesis: NeXT foi a empresa criada por Steve Jobs em 1985, quando ele foi demitido da Apple no mesmo ano; em 1996, a companhia seria adquirida pela Maçã e Jobs retornaria à organização que criou junto de Steve Wozniak.

Como já existia um catálogo físico desde o lançamento do NeXT, o que os desenvolvedores fizeram foi apenas levar o conteúdo palpável para o ambiente virtual. Nas primeiras publicações, o AppWrapper vinha com CD-ROM que trazia o conteúdo digitalizado. O interessante é que ela continha avaliações dos aplicativos também, algo inédito até então.

Após algum tempo, o pequeno distribuidor de apps passou a ser disponibilizado no site da Paget Press (paget.com), uma pequena empresa de distribuição de software, e foi demonstrado pela primeira vez a Steve Jobs na NeXTWorld Expo de 1993. O EAW então se tornou reconhecido e chegou a ser mencionado nas páginas das revistas Wired e NeXTWorld.

Como não exigia caixa, CDs ou manuais impressos, os custos de distribuição de programas na loja virtual eram bem menores do que o padrão daquela época, razão pela qual alguns aderiram. Por outro lado, o acesso aos compradores era infinitamente menor do que um software tradicional de prateleira.

Apenas um portfólio online

Vale ressaltar que o EAW era apenas um catálogo onde se podia consultar o preço e alguns detalhes sobre o software. Toda a compra e licenciamento era feita por meios externos, diretamente com os desenvolvedores por telefone, fax ou via e-mail. Nada de transações online ou liberação em tempo real: muitas vezes era preciso esperar semanas até o programa ser entregue no seu local de trabalho, por exemplo.

Veja o diagrama que o pessoal do catálogo desenvolveu para orientar as pessoas a comprar pelo aplicativo:

Como a internet ainda era muito lenta para os padrões atuais, somente pequenos apps eram vendidos diretamente pela web. Um disquete tinha a capacidade de 1,44 MB e a maioria das aplicações cabia nesse espaço altamente limitado. Era impensável, por exemplo, comprar o Windows por um sistema de download online, pois isso levaria dias e ainda tinha o risco de a “conexão cair” no meio do download.

Atualização via internet e criptografia

Outra vantagem do catálogo permitir o envio de atualizações para os programas via internet, algo que só veio a se consolidar, de fato, no século 21, mais ou menos. Com o AppWrapper, o desenvolvedor poderia anunciar e linkar pequenas correções para instalação 100% digital.

Um dos maiores desafios era gerir a criptografia e os direitos digitais sobre o software comercializado, caso contrário, qualquer pessoa poderia copiar e usar o aplicativo. Na época, isso ficava por conta do próprio desenvolvedor, sem qualquer contrapartida da loja.

A parte interessante é que o formato criado pela AppWrapper foi reproduzido por praticamente todas as lojas subsequentes e ainda é o padrão da App Store, por exemplo. Questões como a unificação do catálogo, a criptografia de aplicativos, a transferência online de dados e outros conceitos derivam dessa loja.

Até a forma de monetização se mantém intacta: um valor percentual era descontado sobre as vendas efetuadas. Como era algo bastante embrionário, essa taxa era negociada de forma individualizada com cada desenvolvedor.

Com o declínio do sistema operacional do NeXT após a venda da empresa para a Apple (o sistema, inclusive, serviu de base para a criação do Mac OS X), o catálogo digital foi embora junto com ele. Isso marca o fim da primeira loja virtual, considerada a primeira app store do mundo e que influenciou todas as demais.

Loja de apps com repositório

Enquanto a AppWrapper foi o primeiro comércio eletrônico de aplicativos, a primeira loja oficial só surgiria em 1996. A distribuição Linux chamada SUSE tinha o YaST como seu próprio repositório de programas, nos quais não era preciso acessar outro ambiente para baixar software para a máquina. E lá nada era comercializado de fato: a loja era 100% gratuita.

Depois dele, outras distribuições do software de código aberto seguiram o modelo: Mandriva, Fedora e o Red Hat Enterprise também criaram lojas próprias de apps para rodar nas suas plataformas.

Loja de apps para dispositivos móveis

Foi só em 1998 que o mundo viu nascer a primeira loja de aplicativos para dispositivos móveis, em um formato que se assemelha mais ao que as pessoas se acostumaram. A Information Technologies India Ltd (ITIL) lançou o Palmix, uma loja de aplicativos baseada na web exclusivamente para dispositivos móveis e portáteis. A Palmix vendeu aplicativos para as três principais plataformas de PDA (uma espécie de agenda eletrônica e de compromissos) da época: Palm Pilots, com base no Palm OS, dispositivos baseados no Windows CE e aparelhos da Psion Epoc.

Cinco anos mais tarde, em 2003, a Handango introduziu a primeira loja de aplicativos que permitia localizar, instalar e comprar software para smartphones. O download e a compra eram concluídos diretamente no dispositivo, portanto não havia a necessidade de sincronizar dados com o computador. A loja também passou a ofertar descrição, avaliação e captura de tela para qualquer aplicativo, algo revolucionário na época.

Mas foi com o lançamento do iOS 2.0, em julho de 2008, que houve a chegada da famosa App Store — e a consequente terminologia que dela decorre. A loja foi a responsável por apresentar oficialmente a capacidade de desenvolver e distribuir aplicativos de terceiros para a então fechada plataforma da Apple.

O lançamento da loja da Maçã levou a várias outras companhias do segmento, em especial o Google, a produzir a Android Market (agora chamada de Google Play Store) e lojas exclusivas para compartilhar aplicações para celulares, computadores, tablets, videogames e dispositivos móveis em geral.

Via: CanalTech